quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Coragem de optar pela Arte: Contação de História no Lançamento do Livro "Cultura"

Na noite do lançamento do livro teve sessão especial de contação de história com Rosária, a Bibliotecária.
CORAGEM DE OPTAR PELA ARTE de LAÉ DE SOUZA ADAPTADA POR ROSARIA COSTA EM 09/02/2011

Era uma vez uma família de brasileiros. Uma família como qualquer outra pai, mãe, filho e filha, uma família que poderia ser daqui, dali, do norte, do nordeste, do sul. Era uma família normal só o filho é que muitos não achavam tão normal. Me contaram que a responsabilidade maior foi do pai, que numa ocasião presenteou o menino com um berimbau. Outros acham que a culpa foi da mãe que, enjoada do din-din-din-don , trocou o instrumento por um violão. Embora, muitos acreditem que ele já tenha vindo de nascença com um parafuso a menos e que essas coisas não tenham influenciado em nada. O certo é que todos achavam que o Zé Brasileiro não tinha um pingo de juízo.
Os pais, coitados, fizeram de tudo para que ele se endireitasse, mas foi perda de tempo. Arrumaram uma vaga num escritório de contabilidade, mas qual nada. Na mala de boy, levava suas revistas de partituras e letras que cantarolava no ônibus e na fila do banco. No guichê, enquanto o caixa autenticava, ele tamborilava com uma caneta no vidro do balcão. O contador lhe apontava exemplos de quem entrou pequeno e agora era chefe de departamentos e ele, nem aí. Trabalhava um dia faltava dois, foi despedido por faltas.
Arrumaram-lhe então um emprego numa metalúrgica. Na prensa, com o pé livre batia duas vezes no chão e no do pedal batia uma, em ritmo de valsa. Enlouquecia os colegas das outras máquinas.Puseram-no para rebitar, e o chefe o dispensou por não agüentar mais o bater compassado e a quarta batida mais forte, sempre.
Daí pra frente só fez bicos. Na maioria das vezes era encontrado em casa, fechado no quarto com seu violão, repetindo várias vezes a mesma música e descobrindo as notas de um solo. Começou tocar nuns barzinhos e até recebia acanhados aplausos e alguns trocados. Quando perguntado pelo filho, seu Agildo, respondia que ele estava trabalhando. Mas quem ouvia o som do violão vindo do quarto, dava uma risadinha e dizia que o Zé Brasileiro não tinha jeito mesmo.
Seu Agildo também achava estrano o proceder do filho e decidiu investigar se era só ele quem tinha filho doido ou se tinha mais gente assim com essa doidera.
Descobriu que o filho do padeiro era mais estranho ainda, pegava pedaços de madeira e ficava horas e horas esculpindo. Já se viu, madeira é pra fazer casa, móveis e não pra fazer aquelas coisas que ele chamava de escultura. Às vezes até que fazia alguma coisa bonita, mas a família ignorava a beleza para não estimular a loucura.
O filho do açougueiro era metido com coisas de teatro e vivia pedindo roupas velhas para todo mundo. Perdia horas e horas em ensaios inúteis, fazendo cenários de papelão, perucas, narizes e, de vez em quando, junto com outros doidos dava um show lá na praça na frente da igreja. O filho de um seu Geraldo ficava horas e horas como que fora do mundo, pintando uns rabiscos que chamava de quadro, veja só tinta é pra pintar paredes e não pra fazer aquilo. O filho da professora era poeta e não fazia outra coisa senão rabiscar um caderno espiral de capa gasta e sonhava publicar um livro.
E assim, seu Agildo foi descobrindo que tinha essa gente diferente em todos os cantos da cidade e ele começou a duvidar se era mesmo loucura.
Ao descobrir que existiam tantos outros doidos ele quis saber que espécie de doença é essa que ataca a mente, fazendo pessoas abandonarem futuros planejados pelos pais, profissões consagradas, cargos lucrativos nos negócios da família e outras formas estáveis de viver por caminhos incertos.
Disseram pra ele que isto era Arte, e que quando juntamos o trabalho realizado por todos os doidos que tiveram coragem de optar pela Arte damos o nome de CULTURA. E ele sabia que a cultura estava presente em todos os povos do mundo, não só ali na comunidade dele.
Ele até com certa inveja, se perguntava de onde nasce essa força tão grande que faz com que alguns tenham coragem de optar pela arte, pelo fazer cultural?
Ele não conseguiu descobrir de onde nasce essa coragem, só descobriu que não são todos que nascem com ela, só alguns, mas descobriu também que em certos momentos esses corajosos se unem e mostram sua Arte.
Ele viu também que a maioria das pessoas gosta de algum tipo de arte, gosta de apreciar a arte, fica mais feliz após entrar participar de uma mostra cultural.
Ele chegou a conclusão que o que o seu filho, e muitos outros doidos, fazem é uma coisa boa, que ajuda a melhorar a vida das pessoas. E que sempre que uma expressão artística consegue mexer não só com os sentimentos, mas mexer com o pensamento de pelo menos uma pessoa e esta pessoa muda sua forma de pensar e vai em busca da sua loucura, da sua Arte para também fazer Cultura podemos afirmar: A Cultura não transforma o mundo, a Cultura transforma as pessoas e as pessoas é que transformam o mundo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário